A saga do cadastro positivo no Brasil, o banco de dados que reúne informações de bons pagadores, tem hoje um capítulo decisivo. Mas está longe de acabar no final feliz esperado por instituições financeiras e tomadores.
A partir de hoje, as instituições financeiras - nesse rol não entram as administradoras de consórcio - são obrigadas a estar prontas para alimentar o sistema que reúne as informações de quem paga as dívidas em dia. A expectativa, tanto dos bancos como das empresas que fazem a gestão desses dados, contudo, é que ainda levará mais cinco anos até que o cadastro esteja funcionando plenamente.
"O mínimo de massa crítica necessária para que o cadastro positivo possa começar a operar são cerca de 7 a 8 milhões de CPFs, o que corresponde a 10% da população economicamente ativa", afirma Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, um dos bancos de dados responsáveis pelas informações dos tomadores. Hoje, segundo Dourado, mesmo sem as instituições financeiras, há cerca de 2 milhões de CPFs no cadastro. Ele espera que demorará até cinco anos para que o cadastro positivo faça parte da cultura de tomadores e empresas no país.
Ricardo Loureiro, da Serasa Experian, estima entre 30 milhões e 40 milhões de CPFs no Brasil que pertencem a tomadores mais frequentes de crédito, sendo esse o número ideal para a "maturidade" do cadastro positivo brasileiro. O executivo não arrisca, porém, estimar quanto tempo levará para que esse nível seja atingido.
Loureiro espera que a adesão ao cadastro positivo de empresas não-financeiras, como concessionárias de serviços públicos e varejistas, se acelere após a chegada dos bancos. Tanto a Serasa como a Boa Vista já contam com contratos com varejistas de grande porte, como a Casas Bahia. Mas, segundo Loureiro, ainda é mínimo o número de empresas desse tipo que fornecem informações à base, não passando de 50.
Entre os bancos, o projeto ficou conhecido como "Novo Cadastro" e foi conduzido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Cerca de 100 instituições financeiras vão usar a plataforma única para o cadastro positivo, que vai transmitir as informações no âmbito da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), pertencente aos bancos. A CIP fará a ponte entre os bancos e as empresas de banco de dados selecionadas para trabalhar com o sistema: Boa Vista, Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Serasa e Crivo TransUnion (em homologação).
"A experiência internacional mostra que são necessários de três a quatro anos para se observar os primeiros impactos do Novo Cadastro no crédito concedido", afirmou a Febraban, em comunicado.
Os bancos já dispõem de uma espécie de birô positivo no Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR), que permite visualizar a exposição de tomadores ao sistema financeiro, com abertura de operações a partir de R$ 1 mil. Para Almir Carrion, diretor de Relações Institucionais da C&M Software, fornecedora de tecnologia financeira, o cadastro positivo vai enriquecer as informações do SCR aumentando a assertividade de modelos de crédito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário